União Soviética dominando o mundo.

União Soviética dominando o mundo.

No dia de hoje, encerraremos a sequência de postagens do mês de fevereiro que se propôs a discutir o contexto do Pré Golpe no Brasil. Como fechamento da temática, achamos que não teríamos outro assunto melhor para trabalhar e para reforçar que o anticomunismo, como uma espécie de ideologia que perpassou por todas as outras postagens, seja pela pela aproximação dos ideários comunistas aos fatos que aconteceram ou seja pela acusação de que determinadas propostas políticas ou atividades estariam ligado ao ideário comunista.

Pensemos um pouco no contexto da bipolarização do mundo, na qual as propostas do trabalhismo no Brasil sofreu inúmeras acusações de aproximação com as políticas levadas a cabo pelos partidos comunistas na URSS e em Cuba. Por exemplo, muitos viam nas reformas de base propostas pelo governo e no próprio governo de Goulart, nesse contexto de divisão do mundo em áreas de influência, uma tentativa de transformar o Brasil em um país comunista – por isso também a necessária Campanha da Legalidade para garantir a posse do presidente de Jango. Pensemos também no quanto as atividades propostas e desenvolvidas pelos Centros de Cultura Popular e pelo Movimento de Educação Popular foram tomadas como subversivas de caráter comunista assim que Golpe ocorre e efetiva uma Ditadura no país.

Propaganda anticomunista.

Propaganda anticomunista.

Com isso, não queremos descartar que essa leitura de mundo, de forma de fazer política, de governar e de se viver em um país, uma sociedade organizada nos moldes do comunismo, não estivesse presente por dentro desses acontecimentos como algo real. Se por um lado sabemos que as bandeiras trabalhistas, como as reformas de base, em muito se distanciaram dos projetos levados a cabo pelos partidos comunistas em diversos países, por outro lado, podemos afirmar que na história dos Centros Popular de Cultura e do Movimento de Educação Popular, respeitando sua heterogeneidade, estavam presentes proposta ligadas às bandeiras comunistas.

Queremos dizer com isso que independente da ideia comunista ter se apresentado de forma real em muitas práticas e em muitos projetos políticos no Brasil, por outro lado foi criado no período Pre Golpe, além de uma deturpação das propostas comunistas, um sentimento de aversão e de medo entre a população, valendo-se para isso do discurso e de práticas que chamaremos de anticomunistas.

Propaganda anticomunismo.

Segundo Patto Sá Motta, a atuação de forças anticomunistas ao longo da história do Brasil, foi orquestrada tanto por grupos conservadores quanto por alas progressistas durante os períodos de colapso institucional da democracia em nosso país. E o que seria esse anticomunismo entendido de forma mais orgânica?

Para essa postagem, podemos dizer que o anticomunismo seria um conjunto de ideias, de correntes e tendências intelectuais que possuíam em comum a negação dos princípios e ideais do comunismo e a oposição a todo governo ou organização que desse suporte teórico ou prático a essa ideologia. Ainda em comum, os anticomunistas identificam no comunismo uma ameaça à propriedade privada e ao capitalismo

No Brasil e em muitos países da segunda metade do século XX, forças e projetos políticos anticomunistas levaram a cabo golpes militares e a implementação de ditaduras. Foi o que aconteceu por aqui em 1964, sob a égide de intensa propaganda, militares e civis, prenderam, torturaram e desapareceram diversos militantes da esquerda, identificando neles e nos seus projetos, ameaças a ordem e paz brasileiras.

Aqui no APERS, encontramos processos de indenização de muitos ex-presos políticos que eram comunistas ou que foram acusados de serem comunistas pelo Estado. Um deles é do Eloy Martins. Militante comunista desde a Era Vargas, Eloy, por continuar defendendo seus ideais comunistas, mesmo após ter sido seu partido colocado na ilegalidade, teve de se afastar da família e viver na clandestinidade. Adotou falsa identidade para poder trabalhar e para continuar divulgando a política de seu partido, o PCB. Não escapou da repressão, foi preso e torturado pela ditadura militar.

PCB, Eloy Martins e o AnticomunismoA história de Eloy é um dos muitos casos dessa repressão. Para além da ilegalidade do Partido Comunista e da repressão sofrida por seus militantes de forma direta pelo aparato policial, muitas outras estratégias foram utilizadas como forma de colocar tais ideais na marginalidade. Em outras palavras, para que a repressão aos militantes e às ideias comunistas fossem bem-sucedidas, o Estado necessitava do apoio popular e para isso não exitou e lançar mão de uma imensa propaganda anticomunista, que tinha como objetivo insuflar na população sentimentos de medo e de desprezo por essa bandeira política. Boa parte delas, imbuída de nacionalismo, chamavam o apoio da população para que o país não fosse invadido pelo “monstro” do comunismo. Para isso, os militares e os civis no poder também contaram com uma parte significativa da Igreja católica, que denunciava os “supostos” ateísmo e menosprezo pela instituição família defendidos pela ideologia comunista.

Segundo Oliveira, na sua resenha sobre a obra de Sá Motta, foi a interação das doutrinas católicas, nacionalistas e liberais que subsidiaram a cruzada anticomunista brasileira durante a Ditadura, com a constituição de imagens que caracterizavam o comunismo como “perigo vermelho”.

Por outro lado, transformar o mundo rumo à fraternidade universal, onde os trabalhadores não tivessem suas vidas cerradas por fronteiras nacionais e economias burguesas, de fato, eram projetos comunistas, que foram reais motivos de preocupação dos grupos anticomunistas. No sentido de agregar o real e o imaginário, Sá Motta descreve: “a ocorrência de manipulações foi um elemento constante na história do anticomunismo brasileiro. O terror anticomunista foi artificialmente insuflado, visando a obtenção de ganhos políticos, eleitorais e até pecuniários. Porém, isto não altera o fato de que muitos grupos e indivíduos anticomunistas agiam movidos por convicções ideológicas e não de forma oportunista”.

Dessa forma, encerramos o texto de hoje com o anticomunismo abrindo caminhos para o Golpe Militar de 1964, seja pelo que de real ameaça ou pelo que de imaginário construído havia no comunismo no Brasil do Pré Golpe.

Bibliografia:

A ideologia anticomunista no Brasil de Marcus Robertos de Oliveira, disponível em:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-44782004000200019

Anticomunismo na Enciclopédia Pública.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Anticomunismo

O Anticomunismo nas Forças Armadas de Celso Castro

http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/artigos/AConjunturaRadicalizacao/O_anticomunismo_nas_FFAA

Leitura recomendada:

SÁ MOTTA, Rodrigo Patto. 2002. Em guarda contra o perigo vermelho: o anticomunismo no Brasil (1917-1964). São Paulo: Perspectiva.