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E a Revolução meu irmão?

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E a revolução meu irmão?

E a revolução meu irmão?

Nesta semana a equipe Resistência em Arquivo, entrou em contato com Nei Lisboa, cantor e compositor gaúcho, para que ele desse seu relato sobre a música “E a revolução?”, que aborda a temática “Ditadura e Direitos Humanos”. Em uma agradável conversa por telefone, Nei falou-nos sobre o contexto de sua criação, sobre a relação que tem com a canção, sobre o que ele canta em suas entrelinhas e sobre as memórias que estão presentes em uma música que faz uma ponte direta com a história do nosso país.

Nei Lisboa é irmão mais jovem – entre sete – de Luiz Eurico Tejera Lisbôa, primeiro desaparecido político brasileiro cujo corpo pôde ser localizado, no final dos anos 70, depois de uma incansável busca de sua companheira Suzana Lisboa, que segue até hoje na luta por verdade e justiça à frente do movimento dos familiares de mortos e desaparecidos políticos.

“E a revolução” é a oitava faixa do álbum “Cena Beatnik” lançado em 2001. Sua discografia completa junto a uma coluna de textos escrita por Nei e outros materiais estão disponíveis em seu site oficinal, aqui.

Segue abaixo o depoimento de Nei Lisboa, intercalado pela letra de “E a revolução?”:

Clique aqui para ouvir a música!

A letra da música é explicita, ela é direta, tem um discurso direto. Uma “poesia” que mostra a minha relação pessoal com esse assunto, com meu irmão que era guerrilheiro, minhas irmãs que eram de movimento estudantil e dois primos que participaram da luta armada. Eu era o mais novo dos irmãos. A música tem uma certa dose dessa motivação, dessa relação sentimental que tenho com o tema. Mas também quis fazer uma relação aberta com a época, e como isso se aproxima do presente.

Falar do meu amor pelo Eurico, é falar das suas ideologias. Falar da dor maior que é a perda de entes queridos, dessa geração que padeceu na carne a ditadura. Um outro lado dessa geração percebeu essa luta como inglória, mas é questão de momento e ponto de vista, um copo meio vazio, também pode estar meio cheio. Eles lutaram para que hoje o mundo pudesse se encaminhar para um caminho mais justo e igualitário.

68 foi barra
Plena ditadura
Plena resistência
Plena Tropicália
Plena confusão

Foi um rebuliço lá em casa
Manifestos, passeatas
Festivais de minissaias
Meu irmão limpando a arma
Meu irmão,
E a revolução?

A música tem uma longa letra sob uma levada roqueira sessentista que vem narrando a época, que é a minha visão. Em 68 (ano que se passa a música) eu era um guri, tinha nove anos de idade. O quadro não era só de militância política mas de cultura, de rebuliço, Tropicália, gente vendo e fazendo a adolescência acontecer, as minissaias. Mas o que segue este rebuliço foi o AI-5 com torturas, prisões indiscriminadas, violência. A música também fala do contexto do Cone Sul, fala do “Muro de Santiago” onde gente foi encontrada enterrada, cimentados dentro de um muro, inclusive isso aconteceu com a companheira de um amigo meu. Falo também do “Rio da Prata”, da prática de jogar pessoas de helicóptero sob o rio que fica na Argentina. Quando falo que 68 foi barra, foi bala, foi de verdade, duro mesmo. Na Redemocratização essa expressão se tornou uma espécie de chacota, um clichê, uma frase.

68 foi bala
E mais bala foi setenta e um, e dois, e…
Mais bala foi depois
Sempre alguém sumido de casa
Torturado, morto,
Mutilado pelo Estado ao bel-prazer
Boiando no Rio da Prata
Guerrilheiros, jornalistas,
Marinheiros, padres e bebês
Boiando no Rio da Prata
Visto num jazigo vago
Ou num muro de Santiago
Ou jogado numa vala comum

A música tem trechos mais melódicos, mais emotivos, são quase uma mensagem direta ao meu irmão. No final da letra sucintamente eu nomeio certas crônicas do Brasil que mesmo hoje em 2014 continuam, de uma forma ou de outra: “Luxúria, Mentira, Autoridade sem moral”

Mais duro é perceber
Se eu fosse te falar
Do Brasil de agora
Que seria tão igual
Miséria
Doença
Polícia brutal
Luxúria
Mentira
Autoridade sem moral
Viu? Hum, hum
68 foi barra
Como é 2001… e 2014!

Clique aqui para ver a letra na íntegra!

Saiba Mais:

E a revolução meu irmão?

E a revolução meu irmão?

Nos anos 67 e 68, Ico (como o Eurico era conhecido) era estudante e líder da União Gaúcha dos Estudantes Secundaristas. Foi processado pela Lei de Segurança Nacional, tendo então que adotar uma identidade diferente, não mais podendo viver seus próprios anseios e vontades, passou a viver na clandestinidade. Esgotadas as chances da luta democrática, ingressou na ALN – Ação Libertadora Nacional, organização que era liderada por Carlos Marighella, desaparecendo em setembro de 1972. Suzana (companheira e esposa) nunca parou de buscá-lo desde então. Seus restos mortais foram encontrados no Cemitério de Perus, enterrado com nome falso. Foi o primeiro “desaparecido” a ser encontrado, graças ao esforço de Suzana e isto fortaleceu a luta e a busca das famílias pelos corpos de seus entes queridos. Luiz Eurico é hoje nome de rua em várias localidades do Brasil, é também referência de resistência contra a ditadura.

dopinha-bernardojardim

De centro de tortura a memorial de resistência à ditadura.

Em Dezembro de 2013 presenciamos um ato organizado por diferentes movimentos sociais para realizar o tombamento popular de um antigo centro de tortura usado pelos aparelhos repressivos. Esse antigo prédio do “Dopinha” – nome dado em alusão ao Departamento de Ordem Social e Política (DOPS) – hoje um velho casarão na rua Santo Antônio, nª 600, no bairro Bom Fim em Porto Alegre, foi usado na década de 1960-70 como centro de detenção e tortura clandestino contra perseguidos políticos. Assim que for implantado, o Centro de Memória se chamará Ico Lisboa, recebendo o nome de um opositor do regime militar, e exercerá uma função social voltada à defesa dos direitos humanos e ao resgate da memória da resistência à ditadura.

O Cinema Novo, por Gil e Caetano

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 Seguindo a lógica da semana, sobre o cinema novo e o movimento estudantil, indicamos esta canção que embalou estudantes, cineastas e tropicalistas nas décadas de 70 e 80. Esta canção talvez não seja uma das mais conhecidas mas seus compositores de fato são, Caetano Veloso e Gilberto Gil falam do cinema novo, falam de suas percepções subjetivas deste movimento que mudou a cultura filmográfica brasileira confira:

O filme quis dizer: “Eu sou o samba”
A voz do morro rasgou a tela do cinema
E começaram a se configurar
Visões das coisas grandes e pequenas
Que nos formaram e estão a nos formar
Todas e muitas: Deus e o Diabo
Vidas Secas, Os Fuzis
Os Cafajestes, O Padre e a Moça, A Grande Feira,
O Desafio
Outras conversas, outras conversas
Sobre os jeitos do Brasil
Outras conversas sobre os jeitos do Brasil

A bossa-nova passou na prova
Nos salvou na dimensão da eternidade
Porém, aqui embaixo “a vida”
Mera “metade de nada”
Nem morria nem enfrentava o problema
Pedia soluções e explicações
E foi por isso que as imagens do país desse cinema
Entraram nas palavras das canções
Entraram nas palavras das canções

Primeiro, foram aquelas que explicavam
E a música parava pra pensar
Mas era tão bonito que parasse
Que a gente nem queria reclamar
Depois, foram as imagens que assombravam
E outras palavras já queriam se cantar
De ordem, de desordem, de loucura
De alma à meia-noite e de indústria
E a terra entrou em transe, ê
No sertão de Ipanema
Em transe, ê
No mar de Monte Santo
E a luz do nosso canto
E as vozes do poema
Necessitaram transformar-se tanto
Que o samba quis dizer
O samba quis dizer: “Eu sou cinema”
O samba quis dizer: “Eu sou cinema”

Aí o anjo nasceu
Veio o bandido meteorango
Hitler Terceiro Mundo
Sem Essa, Aranha, Fome de Amor
E o filme disse: “Eu quero ser poema”
Ou mais: “Quero ser filme, e filme-filme”
Acossado no limite da garganta do diabo
Voltar à Atlântida e ultrapassar o eclipse
Matar o ovo e ver a Vera Cruz
E o samba agora diz: “Eu sou a luz”
Da lira do delírio, da alforria de Xica
De toda a nudez de Índia
De flor de Macabéia, de Asa Branca
Meu nome é Stelinha, é Inocência
Meu nome é Orson Antônio Vieira Conselheiro de Pixote Super Outro
Quero ser velho, de novo eterno
Quero ser novo de novo
Quero ser Ganga Bruta e clara gema
Eu sou o samba, viva o cinema
Viva o Cinema Novo

A Radio Nacional e a Aliança de Libertação Nacional

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Continuando com a proposta de abordar o tema “estratégias de resistência em organizaçções clandestinas” indicaremos a seguinte música e clipe: Racionais Mc’s – Mil faces de um homem leal – Marighella (Clipe Oficial 2012). O Clipe reconstitui a invasão da Radio Nacional pela organização clandestina ALN (Aliança de Libertação Nacional). A letra da música ainda explora o cenário da luta pela resistência a ditadura.

“Às oito e meia da manhã de 15 de agosto de 1969, um destacamento de doze guerrilheiros da ALN (Ação Libertadora Nacional) invadiu a estação transmissora da Rádio Nacional em Piraporinha, perto de Diadema (Grande São Paulo). Dominados os funcionários, um dos invasores interrompeu a ligação com o estúdio e ligou ao transmissor de ondas curtas uma gravação. Com o Fundo musical do Hino da Internacional Comunista e do Hino Nacional, a gravação anunciou o nome da Carlos Marighella e reproduziu o manifesto lido por ele. Na meia hora em que a estação esteve sob controle da ALN, deu tempo para repetir a gravação. No mesmo dia 15, o jornal paulistano Diário da Noite lançou uma segunda edição com o texto integral do manifesto de Marighella captado pelo o radioescuta. ”

Saiba Mais: http://www.documentosrevelados.com.br/repressao/forcas-armadas/espetacular-tomada-da-radio-nacional-de-sao-paulo-pela-resistencia-a-ditadura/

A MPB e a censura

Comentários Desativados em A MPB e a censura

censuraA MPB – como estilo musical – se torna uma das maiores expressões culturais de resistência ao regime militar na década de 1960 à 1970 no Brasil. Bem recebida pelo público, principalmente pela classe média, ela se torna alvo favorito da censura, justamente por passar a expressar em suas letras posicionamentos políticos engajados e críticos.

O estilo musical conquistou espaço especialmente a partir dos Festivais da Canção (1965 à 1985), que lançaram compositores que enfrentaram o regime e até hoje fazem sucesso. Muitos foram os compositores da MPB atingidos pela censura da Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP), como Chico Buarque, Geraldo Vandré, Nara leão, Elias Regina, entre outros. A DCDP criada no governo Vargas em 1939 teve o auge de sua atuação a partir de 1964, com ápice na década de 1970.

Geraldo Vandré - no Festival da Canção em 1968.

Geraldo Vandré – no Festival da Canção em 1968.

Um caso visto como censura, por exemplo, dentro do próprio Festival da Canção em 1968, é o famoso episódio onde a música de Geraldo Vandré – Pra não dizer que não falei de flores – que claramente fazia uma crítica ao regime, incitava a população a sair as ruas e se manifestar, e conquistou o público do Festival, deixou de ganhar para dar lugar à música de Chico Buarque e Antônio Carlos Jobim – Sabiá, campeã de acordo com a opinião dos jurados.

Queremos hoje compartilhar com vocês a reação do público que se indignou ao perceber que a música vencedora não foi a de Geraldo Vandré. Confira abaixo. É fantástico!

Censura a Pequeno Mapa do Tempo, de Belchior.

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Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernades

Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernades

Propondo-nos a abordar a questão da censura durante a Ditadura Civil Militar no Brasil, apresentamos a música Pequeno Mapa do Tempo, de Belchior (Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernades). Belchior estudou piano e música coral, sendo também programador da rádio da sua cidade natal. Em 1962, mudou-se para Fortaleza onde estudou Filosofia e Humanidades. Começou a estudar Medicina, mas abandonou o curso no quarto ano, em 1971, para dedicar-se à carreira artística, tornando-se um dos grandes nomes da Música Popular Brasileira (MPB).

Clique aqui e ouça a música, direto do YouTube.

O medo anda por dentro do teu coração

“O medo anda por dentro do teu coração[…]”

Apresentamos também o processo de censura da canção (clique aqui), que só foi lançada muitos anos depois de ser escrita, com o fim da Ditadura. Pequeno Mapa do Tempo foi interditada pela “Divisão de Censura e Diversões Públicas”, tendo diversas estrofes consideradas “proibidas”. Os censores afirmam, no parecer assinado em 29 de março de 1977, que a música contém mensagens de protesto político, que questionam a realidade sócio-econômica e política do país. No documento assinado por dois censores, observa-se que outras canções do Belchior também são vetadas, todas por apresentarem “conteúdo de insatisfação e crítica ao regime vigente”.

Pequeno Mapa do Tempo
Belchior

Eu tenho medo e medo está por fora
O medo anda por dentro do teu coração
Eu tenho medo de que chegue a hora
Em que eu precise entrar no avião

Eu tenho medo de abrir a porta
Que dá pro sertão da minha solidão
Apertar o botão: cidade morta
Placa torta indicando a contramão
Faca de ponta e meu punhal que corta
E o fantasma escondido no porão

Medo, medo. medo, medo, medo, medo

Eu tenho medo que Belo Horizonte
Eu tenho medo que Minas Gerais
Eu tenho medo que Natal, Vitória
Eu tenho medo Goiânia, Goiás

Eu tenho medo Salvador, Bahia
Eu tenho medo Belém do Pará
Eu tenho medo pai, filho, Espírito Santo, São Paulo
Eu tenho medo eu tenho C eu digo A

Eu tenho medo um Rio, um Porto Alegre, um Recife
Eu tenho medo Paraíba, medo Paranapá
Eu tenho medo Estrela do Norte, paixão, morte é certeza
Medo Fortaleza, medo Ceará

Medo, medo. medo, medo, medo, medo

Eu tenho medo e já aconteceu
Eu tenho medo e inda está por vir
Morre o meu medo e isto não é segredo

Eu mando buscar outro lá no Piauí
Medo, o meu boi morreu, o que será de mim?
Manda buscar outro, maninha, no Piauí

Resistência no pé: Samba da Legalidade

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A propósito do tema desta semana e do clima de carnaval, trazemos um vídeo montagem produzida por um de nossos estagiários, Gabriel Chaves Amorim.  O vídeo foi montado, a partir de imagens de época retirados do acervo da TV TUPI. As imagens mostram a movimentação civil e militar do movimento da Legalidade. A trilha sonora á um samba de Zé Kéti e Carlos Lyra, que, nos anos seguintes, se destacariam como compositores engajados. A canção ficou conhecida na voz de Nara Leão.

Samba Da Legalidade (Letra)

Dentro da legalidade
Dentro da honestidade
Ninguém tira meu direito
Quando querem anarquia
Elimino a teimosia
Mostrando todo o defeito
Se o samba está errado
Não posso ficar calado
Consertando a melodia
Se a letra o tratamento
Não estiver no português
Com toda diplomacia
Peço desculpas ao fregues
Conserto tudo outra vez

Eu não sou politiqueiro
Meu negócio é um pandeiro
Dentro da legalidade
Sou poeta popular
Dentro da honestidade
Ninguém pode me calar

Os Reis Robertos, a Jovem Guarda e a Explosão da Bomba

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Roberto Carlos Braga

Roberto Carlos Braga

Sobre o cenário da música brasileira no período da Ditadura Militar temos como aceito certa avaliação que divide o palco em dois grupos: uma “jovem guarda” alienada e passiva ao contexto político do país e uma MPB engajada. Hoje, propomos-nos a discutir e a relativizar essa afirmação, sem qualquer pretensão de engrandecer ou de justificar o posicionamento político e artístico de qualquer nome da nossa música.

Programa Jovem Guarda, TV RECORD

Programa Jovem Guarda, TV RECORD

Durante a década de sessenta, a cena artística ficou cerceada pelas políticas de controle social. Muitas coisas não podiam ser ditas e muito daquilo que se queria dizer, precisava de uma formato velado que protegesse as idéias do aparato da censura. É bem plausível, que os grandes desdobres nas letras de músicas não tenham sido formulados pela Jovem Guarda, no entanto, traremos para vocês um exemplo no qual a divisão entre música de protesto e o iê iê iê não era tão estanque assim.

Roberto Carlos cumprimenta autoridades militares.

Roberto Carlos cumprimenta autoridades militares.

Nesse cenário musical, despontou na TV um programa chamado Jovem Guarda que estreou em setembro de 1965 no canal Record. Comandado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléia, ele rapidamente foi marcado por uma grande audiência popular. Nesse contexto, Roberto Carlos foi um porta voz da Jovem Guarda e do iê iê iê – estilo musical que se inspirou as baladas de rock dos anos 50, que falava de namoros juvenis e romances aventurosos. A maioria das músicas da Jovem Guarda não tinha compromisso com a crítica política ou social, todavia também não se assumiu partidária da ditadura e nessa posição de “não assumir lados”, foi tachada de apoiadora da Ditadura.

Roberto Rei, Resistência na Jovem Guarda

Roberto Rei, Resistência na Jovem Guarda

Outro cantor e compositor da Jovem Guarda, Roberto Rei, bem menos conhecido que o “Rei Roberto”, compôs algumas das músicas de grande sucesso na época. Dentre elas encontramos as canções Onda do jacaré e História de um homem mau interpretadas por Roberto Carlos.

Das interpretadas por ele próprio, escolhemos para hoje a música A bomba está para explodir na praça enquanto a banda passa, para mostrar que o estilo musical da Jovem Guarda também guardava seus resistentes.

Roberto Rei e o canto da Juventude - Jovem Guarda

Roberto Rei e o canto da Juventude – Jovem Guarda

Lançada em 1967, período no qual a ditadura passou por um processo de endurecimento, a canção fala de um atentado terrorista que irá acontecer enquanto uma banda de música passa por uma praça. Como toda a obra de arte, não cabe a nós por aqui interpretá-la por vocês, mas fica por aqui, o convite para pensarmos nessa banda, nessa praça e nessa bomba cantada por Roberto Rei em um contexto musical tomado de produções descomprometidas, no qual exceções não deixam de surgir.

A bomba esta para explodir na praça enquanto a banda passa – Roberto Rei

A bomba está para explodir na praça enquanto a banda passa (Refrão)
A praça é este mundo alegre em que vivemos.
De gente tão risonha tão contente e tão feliz.
De gente que não pensa em ódio e vingança.
De gente que ainda pensa nesta vida com esperança.”

(Refrão)

A banda é o conjunto de gente que trabalha.
De gente que só pensa em produzir e construir.
De gente que não sabe que existem homens maus,
que pensam diferente, pois vão tudo destruir, porque…

(Refrão)

A bomba é a guerra o fim destruição.
De tudo que existe do amor da ilusão.
A guerra é enfim a ultima desgraça,
pois tão pouca gente vai dar fim a uma raça, porque…

(Refrão)

Curiosidades!!!

Você sabia que a ideia de uma banda passando pela praça, faz referência a uma música lançada um ano antes A banda – Chico Buarque de Holanda?

Você sabia também que pode ver, por meio de um documento militar da época, “determinados artistas que se uniram à Revolução de 1964 no combate à subversão […] sempre dispostos a uma efetiva cooperação com o Governo”. Encontramos, dentre eles, Roberto Carlos, Agnaldo Timóteo e Wilson Simonal.

(Clique para ver o s Documentos Folha 1/Folha2)

Juca Chaves e o presidente bossa nova

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Juca Chaves - "Menestrel Brasileiro"

Juca Chaves – “Menestrel Brasileiro”

Durante a década de sessenta, despontavam, na cena musical, nomes como Nara Leão, Elis Regina, Caetano Veloso, Chico Buarque. Dentre esses nomes, estava o cantor Juca Chaves. Sempre muito polêmico, criticou Getúlio Vargas, criticou o regime ditatorial, criticou os governos Juscelino e Jango, por meio de suas composições bossa nova. Por usar versos simples, porém objetivos, suas músicas tinham um forte tom “subversivo”, construído nas entrelinhas, no espaço do subentendido.

Disco com as músicas censuradas de Juca Chaves.

Disco com as músicas censuradas de Juca Chaves.

Nessa semana, fizemos uma série de postagens sobre Juscelino Kubitschek, cuja morte está sendo alvo de investigações. Juscelino foi um presidente popular e controverso que acreditava no ideal de levar o progresso ao Brasil.

Aproveitando toda as notícias do dia, apresentamos a canção Presidente Bossa Nova de Juca Chaves, que fala das maravilhas de ser presidente do Brasil em uma época em que JK viajava muito do Rio de Janeiro (Velha Cap) à Brasília para acompanhar as obras da Nova Capital (Nova Cap). Fala ainda das características que o presidente tinha, como a disposição para receber artistas e personalidades e para fazer média com a mídia. No final da música, parece que Juca ironiza esse muito novo, “ultra-novo”.

Juca Chaves  – Presidente Bossa Nova

Juca

Juca

Bossa nova mesmo é ser presidente Desta terra descoberta por Cabral
Para tanto basta ser tão simplesmente
Simpático, risonho, original.
Depois desfrutar da maravilha
De ser o presidente do Brasil,
Voar da Velhacap pra Brasília,
Ver a alvorada e voar de volta ao Rio.
Voar, voar, voar, voar,
Voar, voar pra bem distante, a
Té Versalhes onde duas mineirinhas valsinhas
Dançam como debutante, interessante!
Mandar parente a jato pro dentista,
Almoçar com tenista campeão,
Também poder ser um bom artista exclusivista
Tomando com Dilermando umas aulinhas de violão.
Isto é viver como se aprova,
É ser um presidente bossa nova.
Bossa nova, muito nova,
Nova mesmo, ultra nova!

Burlando a censura: Julinho de Adelaide na obra de Chico Buarque

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Chico Buarque - Acorda Amor

Chico Buarque – Acorda Amor

Durante o período da Ditadura Civil Militar brasileira, não só pessoas que se propuseram a registrar seu descontentamento ao regime, indo as ruas, ou se organizando em grupos armados foram reprimidas. Personalidades públicas, e principalmente ligadas à cultura, também sofreram censura, como músicos e atores. Um bom exemplo disso é a censura sofrida por Chico Buarque. Suas músicas que foram censuradas, mesmo com a sagacidade do autor em fazer trocadilhos, dando brecha para se projetar outros olhares e interpretações sobre cada letra, que não só a perspectiva da crítica política. Chico chegou a usar um pseudônimo, conhecido como Julinho de Adelaide para “fugir” da repressão e da censura. A partir desse pseudônimo ele criou composições como Acorda amor, Jorge Maravilha e Milagre Brasileiro, que retratavam justamente a conjuntura do regime militar à época.

Burlando a censura: Julinho de Adelaide na obra de Chico Buarque

Burlando a censura: Julinho de Adelaide na obra de Chico Buarque

 Abaixo, deixamos a letra e o vídeo de uma das músicas do “Julinho”, Acorda Amor, que denunciava essas práticas de repressão. Na letra da música, Chico fala dos horrores da polícia na vida do cidadão. Narra ainda a experiência do cárcere incomunicável, onde familiares e amigos desconheciam um o paradeiro do outro, algo muito comum no período da ditadura. O temor que certa parte da sociedade criou entorno da polícia é traduzida na frase “chame o ladrão”, e que persiste até hoje. Acreditamos que a partir da problematização de músicas como essa é possível compreender melhor a história recente de nosso país. Confira!

 

Acorda amor

Acorda amor
Eu tive um pesadelo agora
Sonhei que tinha gente lá fora
Batendo no portão, que aflição
Era a dura, numa muito escura viatura
Minha nossa santa criatura
Chame, chame, chame lá
Chame, chame o ladrão, chame o ladrão
Acorda amor
Não é mais pesadelo nada
Tem gente já no vão de escada
Fazendo confusão, que aflição
São os homens
E eu aqui parado de pijama
Eu não gosto de passar vexame
Chame, chame, chame
Chame o ladrão, chame o ladrão
Se eu demorar uns meses
Convém, às vezes, você sofrer
Mas depois de um ano eu não vindo
Ponha a roupa de domingo
E pode me esquecer
Acorda amor
Que o bicho é brabo e não sossega
Se você corre o bicho pega
Se fica não sei não
Atenção
Não demora
Dia desses chega a sua hora
Não discuta à toa não reclame
Clame, chame lá, chame, chame
Chame o ladrão, chame o ladrão, chame o ladrão
(Não esqueça a escova, o sabonete e o violão)